Palavras soltas – 11

O amor
escorreu-me pelos dedos.
O portão estava fechado
tinha pontas aguçadas
escorreguei na subida,
magoei-me.
O coração sangrou.
Guardaram o meu sangue num frasco.
A mim, guardaram-me na terra húmida
e plantaram flores
para que não me sentisse sozinha na eternidade.

13 de junho de 2021
Neusa Veloso

Poema XXXIV – Séculos de história

[Escrito a 28 de janeiro de 2020]

Os meus olhos olham-te
olhando-te se perdem
prisioneiros de ti.
Tenho a certeza
de que o nosso encontro
tem séculos de história.
Tenho a certeza de que
já nos cruzámos
nos encontrámos
nos amámos
nos separámos
juntos chorámos
juntos rezámos
juntos vimos nossos corpos desaparecer
desorientados por não saber
a nossa nova morada.

Tenho por vezes a sensação
que nada se desmaterializa totalmente.
Eu e tu continuaremos a existir eternamente
na memória de um mundo, dum universo infinito.

Neusa Veloso